terça-feira, 8 de novembro de 2011

SMOKE ON THE USP ....AND FIRE IN PRISION !


Dificilmente escrevo neste blog, devido a correira do trabalho, artigos e teses por fazer. Mas hoje acordei com a notícia de algo que me deixou atento e com vontade de digitar.
Uma megaoperação preparada para desalojar os alunos que haviam ocupado a Reitoria da USP.
Capitão Nascimento seguramente estava na organização ...porque a coisa foi digna de cena de invasão de morro !!!

Vou tecer aqui alguns comentários pessoais sobre o tema ...nada daqueles pareceres jurídicos ou algo do tipo. Mais uma impressão pessoal, fazendo um relato do tempo que era estudante.

Assim que entrei na Universidade, no Curso de Direito da Católica de PE, lá pelo final da década de 90, participei de uma passeata organizada por várias "uniões" de estudantes contra o aumento de passagem de ônibus. Era uma passeata pacífica, na avenida mais movimentada do centro de Recife. Claro que todo motorista estava indignado com aquilo, mas queriamos mostrar pra sociedade que aquele aumento de passagem era abusivo. Chegando em frente à UNICAP, alguns alunos (inclusive meu cunhado, que estudava comigo) deitaram-se no meio da pista para impedir o tráfico. O trânsito parou. A coisa ficou feia !!! Nisso, eu que não fazia parte da ala mais radical, vi a hora que um dos comandantes da operação policial falou para um subalterno quem era que ele queria preso. Vi na hora que ele apontou o dedo para o meu cunhado. Na mesma hora sai correndo e avisei para ele. Acabamos saindo da confusão.

Passou-se mais alguns dias, nova mobilização !!! O DCE organiza uma mobilização e invade o prédio da Reitoria da Universidade (a idade já não me deixa lembrar o motivo). Nosso professor de Introdução ao Direito, um dos mais temidos de todo o curso, o bixo papão, o carrasco, era Pró-Reitor Administrativo, e muito calmamente e amigavelmente fez um acordo com os estudantes. Todos desocuparam o prédio na maior paz do mundo, sem quebrar nada, ou algo do tipo.
Meses depois conseguimos um ônibus com a Universidade, e junto com o DCE e mais alguns alunos fomos à BIENAL DA UNE no Rio de Janeiro. Uma festa só ! Uma união muito legal, e até hoje tenho amigos por conta dessa viagem.

Passou-se os dois primeiros período do curso e comecei a trabalhar demais. Estagiava de manhã e à tarde, e pela noite ia até a faculdade. Chegava em casa por volta de 11 e meia da noite, depois de passar na casa da namorada para dar um beijo e ir dormir. No outro dia, às 06 e meia ou 7 horas da manhã já estava de pé para pegar no batente.
Não precisa nem dizer o quanto era cansativo, mas gratificante. A juventude também contribuia para isso. Era o caminho para um futuro melhor !
Me lembro que chegava em sala de aula muitas vezes cansado, não tinha muito tempo para pensar. Isso sem falar naqueles dias de sexta-feira à noite, nos dois úlitmos horários (horário ingrato), nos quais de nossas salas escutávamos um trio de forró-pé-de-serra tocar ao vivo no bar da esquina da faculdade, tocando um Luiz Gonzaga. A vontade era grande ir para lá. Certa vez me recordo que chamei um colega para matar aula nesse horário para ir tomar umas geladas. Ele que também trabalhava duro, me disse: "Cara, não tenho tempo nem pra 'defecar' " (bom, a expressão que ele utilizou foi outra).
Isto tudo para resumir como é a vida de muita gente que trabalha duro, e que rala muito para estudar à noite.

Agora voltamos ao caso dos estudantes da USP (que acredito que seja a minoria).

Três estudantes foram pegos fumando maconha dentro do CAMPUS pela Polícia Militar. Os estudantes se revoltaram contra isso. Decidem invadir o prédio da reitoria, reinvindicando que a Polícia Militar não fique mais no campus, e também o fim de processos administrativos contra alunos.

Após uma decisão judicial de reintegração de posse, e a notificação legal aos estudantes, a Polícia Militar em uma megaoperação até então somente vista na época da ditadura (dentro de um campus), cumprem a decisão judicial, e levam os estudantes presos para a delegacia, sob a alegação do crime de desobediência à ordem judicial e dano ao erário público.












Vamos à realidade.

Não vou aqui falar se o uso da maconha deve ser liberada ou não.Temos que ver os fatos como são no momento. É proibido e pronto ! E falam que a USP é a melhor universidade do país ....é boa mesmo ..mas já vi muita porcaria sair de lá !

Querer afastar a polícia do campus, para que estudantes possam fumar maconha, é no mínimo vergonhoso. Talvez seja por isso que muitos cobriram seus rostos para não serem identificados. Sabem que o que defendem não tem pé nem cabeça. Na minha época pelo menos tínhamos orgulho de ter participado de uma manifestação em prol de algo justo, queríamos sair em jornais, mostrar que estávamos lutando. Enquanto que estes da USP ....sem comentários !!!

Tudo teve origem porque vários estudantes foram vítimas de assaltos dentro do campus, e inclusive houve morte. Mas para que alguns fumem maconha, vamos tirar a polícia do campus !!!

Se argumentarem que fumar maconha é algo tolerado pela sociedade, não custa nada botar uma banca de jogo do bicho nas ruas do campus ....colocar um bingo, um bar .... prostitutas nas ruas do campus ...será uma festa só ! Imaginem ! Tudo isso é tolerado pela sociedade !!! Chamem os camelôs da 25 de março que estão sendo expulsos e coloquem na USP para vender CD pirata no campus. Isto também é tolerado pela sociedade.

Muitos invasores choraram quando foram presos ...um inclusive cobriu o rosto na hora que estava indo preso, e um PM mandou ele deixar o rosto descoberto ...o PM disse: - "não queria aparecer ...descubra o rosto"!!!

Agora fico a imaginar o princípio de tudo. Qualquer cidadão que fuma maconha sabe que se for pego, vai preso, mas logo depois vai ser solto.
Na verdade eles queriam era fazer graça mesmo !
E os que invadiram a reitoria também vão ser soltos e responder processo em liberdade ...vão pagar uma pena alternativa, e pronto. Acabou-se.

Isto me faz lembrar do sistema jurídico da ISLÂNDIA MEDIEVAL, talvez o único sistema jurídico do mundo que durou mais de três séculos sem possuir nenhum tipo de agente do poder executivo, nem polícia, ministério público ou algo parecido. Existiam tribunais sim, e a pena mais comum para quem não cumpria as regras daquela sociedade era o banimento por três anos. Ou seja, o sujeito tinha que ir embora da ilha. E quem o ajudasse a ficar na ilha, podia ter a mesma pena (inclusive quem descumpria podia ter o banimento total, quando não podia retornar). E quem era que sancionava o indíviduo se ele não fosse embora ...a pessoa que foi vítima do crime. Ele tinha inclusive o poder de matar o cidadão, se o desrespeito fosse grave. Mas a pena principal era o banimento ...ou seja, nega-se ao criminoso o benefício de viver naquela sociedade, de usufrir dos benefícios daquele grupo. É o que a doutrina chama de sanção de "marginalização" (outcasting). Ou seja, quem descumpre as regras daquela sociedade não tem o direito de viver nela. Fora da ilha !!!

Tanta reinvindicação por nada !!! Pobres estudantes (ou ricos estudantes da USP ...rebeldes sem causa !!!).

Este fato me fez lembrar um amigão que fiz na Espanha, Coutinho. Sergipano gente boa. Quando íamos tocar violão na beira do rio que cortava Salamanca, no pôr do sol, olhando para uma ponte romana datada do século I d.c, ele tocava em seu violão o refrão de uma música que ele achava o máximo. A música dizia que você pode fazer de tudo ...tá de saco cheio da vida, vai morar no mato !!! O refrão dizia mais ou menos assim: "Eu vou fugir desse marasmo ...vou sair da capital ...vou fugir desse marasmo ...vou morar no matagal ..." Bons tempos !!! E Coutinho nunca deixou de fazer nada, de sair do marasmo dele, de tocar seu violão "instigado", de tomar seus tragos homéricos, e otras cositas más. Nunca precisou invadir a reitoria da universidade, nem fumar dentro do campus !!!

Este episódio dos alunos me fez lembrar da música SMOKE ON THE WATER, do Deep Purple. Para quem não conhece, procure a letra. A história da música é verídica, e é mais ou menos assim:

"A letra da canção fala de uma história verídica que aconteceu em 4 de dezembro de 1971 quando o Deep Purple chegou em Montreux, na Suíça, para gravar um álbum usando um estúdo de gravação móvel (alugado dos Rolling Stones chamado de "Rolling truck Stones thing" e "the mobile" na letra da música) no complexo de entretenimento que fazia parte do Cassino de Montreux ("casa de apostas", na letra). Na véspera da sessão de gravação um show de Frank Zappa e The Mothers of Invention foi realizado no teatro do cassino e, durante o show, iniciou-se um incêndio no meio do solo de sintetizador de "King Kong" quando alguém na plateia disparou um sinalizador (flare gun) para o teto de vime -o que é mencionado no verso "some stupid with a flare gun", "um idiota com um sinalizador"-. O incêndio destruiu todo o complexo do cassino, juntamente com todo o equipamento do Mothers. A "fumaça na água" que se tornou o título da canção -creditado ao baixista Roger Glover- referia-se à fumaça vinda do fogo, que se espalhou pelo lago de Genebra a partir do cassino em chamas, enquanto os membros da banda assistiam a cena do hotel, do outro lado do lago, onde estavam hospedados".

Agora falando sério: ninguém sai nas ruas reinvindicando direitos das classes mais pobres, lutando contra a corrupção no país. Se é estudante, lute por uma causa justa ! Não seja covarde ! Não tape seu rosto !

Acredito que um grande erro da nova geração é que ninguém procura o caminho correto. Todos querem logo invadir, quebrar o bem público, acusar sem provas, fazer baderna. Aí quando vem a polícia cumprir uma determinação judicial, ou cumprir seu dever legal, acham ruim.

A democracia está justamente neste fato: Há a possibilidade de se reinvindicar por meios pacíficos, legítimos, democráticos. Ninguém requereu primeiro à reitoria, ninguem buscou o poder judiciário. Ninguém procurou o político no qual votou para ajudá-lo. Ninguém procurou a mídia antes. Ninguém fez uma passeata pacífica, com autorização da polícia. Mas não, foram direto invadir a reitoria, quebrando o bem público. Acho que isso sim é um ato de vandalismo ...um ato ditadorial !

Ninguém procurou argumentar que tirar a polícia do campus para fumar maconha é justo para a construção de uma universidade melhor ! (ihhh..., fico a pensar quais seriam os argumentos ....).

Acredito que enquanto a coisa pegava fogo na USP ... outros estavam do lado de fora só olhando e pensando ...que "besteira !!!". Quanta palhaçada para fumar maconha !

É a relação com Smoke on the Water.

Acredito que agora eles entenderam o refrão ..."SMOKE ON THE USP ...AND FIRE IN PRISION".

Pelo amor de deus, não fumem na USP !!! Vão estudar ...usem a "melhor" universidade para pesquisar, dialogar, discutir idéias ... não para badernar.

SMOKE ON THE WATER ... não dá prisão !

Um comentário:

  1. Prof. Rodrigo, muito legal ler um relato sobre sua vida de estudante. És então prova viva de que é possível "ralar" o dia inteiro, estudar à noite e ainda ingressar em mestrado e doutorado. É um "cale a boca" para estudantes que, conforme ouvi dia desses na UFERSA e achei ridículo, dizem que a faculdade seria melhor se o curso fosse diurno e só houvesse estudantes profissionais, pq os que trabalham não têm tempo para estudar e tirar "boas notas"...ridículo, não? Em minha turma há muitas pessoas que trabalham e tiram tantas notas boas quanto alguns "estudantes profissionais" que, apesar de terem todo o tempo livre, não sabem aproveitá-lo. Admiro esses guerreiros e tenho mt orgulho de tê-los como colegas de sala e amigos. :)

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